A guerra dos carros elétricos na China está mais acesa do que nunca, com marcas locais a lançarem modelos agressivamente competitivos e fabricantes internacionais a tentarem manter-se relevantes. No meio deste cenário altamente dinâmico, a Honda encontra-se numa posição insólita: está a competir… consigo própria.
Através das suas duas joint ventures no mercado chinês — GAC Honda e Dongfeng Honda — a marca japonesa lançou dois crossovers elétricos muito semelhantes, mas com preços e posicionamentos comerciais que os colocam diretamente em rota de colisão. O recente lançamento do GAC Honda P7, com um preço significativamente mais baixo, obrigou a Dongfeng a reagir rapidamente com um corte no preço do Honda S7, criando assim uma batalha interna pouco habitual para um fabricante desta dimensão.
Neste artigo vão encontrar:
GAC Honda P7: preço agressivo que abalou o mercado (e a própria marca)
O GAC Honda P7 chegou ao mercado com um preço inicial de 199.900 yuan (cerca de 24.500 euros), uma estratégia clara para atrair compradores sensíveis ao preço num segmento altamente competitivo. No entanto, este posicionamento criou um problema imediato: o Honda S7 da Dongfeng, lançado apenas um mês antes com preços entre 259.900 e 309.900 yuan (~31.870€ a 38.000€), ficou desfasado do mercado da noite para o dia.
A resposta foi rápida — a Dongfeng Honda reduziu o preço do S7 em 60.000 yuan (~7.350€), para tentar manter o modelo competitivo. E como se isso não bastasse, ofereceram ainda um pacote adicional gratuito, que inclui:
- 5 anos de serviços de carro conectado
- Internet móvel ilimitada
- Assistência à condução inteligente Este pacote está avaliado em mais de 27.000 yuan (~3.300€).
É uma manobra que mostra como a concorrência interna pode forçar decisões rápidas, mas também levanta dúvidas sobre a coerência da estratégia da Honda na China.
Semelhanças e diferenças: P7 e S7 lado a lado
Apesar de serem modelos com linhas diferentes, os dois veículos partilham elementos fundamentais de design e engenharia. Ambos têm:
- Teto curvo
- Puxadores de porta retráteis
- Espelhos laterais com câmaras integradas
O GAC Honda P7 distingue-se por elementos visuais únicos, como faróis e para-choques personalizados, e está disponível em cinco cores: roxo, azul, prata, branco e preto.
As dimensões são praticamente idênticas:
- Comprimento: 4.750 mm
- Largura: 1.930 mm
- Altura: 1.625 mm
- Distância entre eixos: 2.930 mm
Curiosamente, o P7 é ligeiramente mais curto do que o Tesla Model Y, mas oferece uma distância entre eixos mais longa, o que pode beneficiar o conforto interior.
Interior tecnológico e equipamento de alto nível
No interior, ambos os modelos apostam forte na tecnologia e conectividade. Equipam:
- Painel de instrumentos digital de 9,9”
- Consola central com dois ecrãs: 12,8” e 10,25”
- Head-up Display em realidade aumentada com 41,9”
- Compatibilidade com Apple CarPlay, Baidu CarLife e Huawei HiCar
- Sistema de som Bose com 16 altifalantes
- Assistência à condução com Honda Sensing
A nível de experiência a bordo, estes dois modelos estão ao nível do que se espera de um EV premium, com forte foco em conectividade, infotainment e condução assistida.
Potência e autonomia: sem diferenças no desempenho
No capítulo da performance, o GAC Honda P7 e o Dongfeng Honda S7 oferecem exatamente os mesmos motores elétricos e bateria:
- Versão base: motor traseiro com 200 kW (268 cv) e 420 Nm de binário, autonomia de até 650 km (CLTC)
- Versão AWD: potência combinada de 350 kW (469 cv) e 770 Nm, aceleração de 0-100 km/h em 4,6 segundos, autonomia de 630 km (CLTC)
Ambos usam uma bateria de 89,8 kWh, o que coloca estes modelos numa posição confortável face à concorrência direta no mercado chinês.
Uma jogada arriscada que pode sair caro
A estratégia da Honda ao lançar dois modelos tão semelhantes através de duas joint ventures diferentes é, no mínimo, um tiro no escuro. Em vez de alargar a base de clientes, cria uma divisão dentro da própria marca, fragmentando a oferta e forçando uma guerra de preços desnecessária.
Num mercado altamente saturado e competitivo como o chinês, esta falta de coordenação pode diluir o valor da marca e reduzir a margem de lucro, especialmente quando cada unidade vendida requer descontos agressivos e pacotes promocionais.
Mais grave ainda: se os consumidores percebem que os modelos da Honda entram rapidamente em corte de preço, poderão começar a adiar a compra à espera do próximo desconto — algo que já vimos acontecer em outras marcas e que prejudica a sustentabilidade do negócio.
Conclusão
A Honda está a enfrentar uma batalha interna na China, com o GAC Honda P7 e o Dongfeng S7 a disputarem o mesmo nicho de mercado. Apesar da qualidade e especificações técnicas de ambos os modelos, a falta de alinhamento estratégico entre as duas joint ventures pode prejudicar a posição da marca a longo prazo.
Com a concorrência chinesa a crescer a olhos vistos, a Honda precisa urgentemente de repensar a sua abordagem para evitar que esta canibalização interna se transforme numa crise maior.
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