A Tesla acaba de enfrentar um dos seus trimestres mais desafiantes na China, com uma queda acentuada nas entregas que não se via há três anos. Segundo dados da China Passenger Car Association (CPCA), a marca norte-americana entregou apenas 172.754 veículos produzidos na Gigafactory de Xangai entre janeiro e março de 2025, uma quebra de quase 22% face ao mesmo período do ano passado, quando foram entregues 220.876 unidades. Este é o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2022, altura em que as entregas ficaram-se pelos 122.100 veículos.
Este número inclui tanto as vendas no mercado interno chinês como as exportações, o que acentua ainda mais a preocupação com a performance da marca de Elon Musk no seu segundo maior mercado a nível mundial.
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Tesla perde terreno para rivais locais mais acessíveis e inovadores
A concorrência no mercado chinês de veículos elétricos (EV) continua a intensificar-se. Marcas locais como a BYD, Xpeng e, mais recentemente, a Xiaomi têm vindo a conquistar cada vez mais quota de mercado com propostas tecnológicas avançadas, preços mais acessíveis e atualizações constantes. O consumidor chinês é exigente e está cada vez mais atento às funcionalidades inteligentes e ao valor global da proposta — algo que, neste momento, parece estar a jogar contra a Tesla.
De acordo com a CPCA, a BYD — atualmente o maior fabricante mundial de veículos elétricos — entregou 416.388 veículos 100% elétricos no primeiro trimestre, um aumento de 39% face ao ano anterior. Se incluirmos os modelos híbridos, a BYD disparou para 569.710 unidades vendidas, mais 76% em relação ao mesmo período de 2024.
Neste contexto, é inevitável questionar: estará a Tesla a perder o toque no mercado chinês?
Recuperação parcial em março não compensa queda acumulada
Apesar da recuperação em março, com 78.828 entregas (um aumento de 157% face ao ano anterior), a Tesla não conseguiu evitar um trimestre negativo. A comparação mensal continua desfavorável: em fevereiro, tinham sido entregues 89.064 unidades, o que significa uma queda de 11,5% entre os dois meses.
A recuperação deve-se em grande parte ao aumento da produção da nova versão do Model Y, agora com um design exterior e interior renovado, maior autonomia, faróis adaptativos e outras melhorias técnicas. Esta versão, no entanto, pode ter chegado tarde demais para contrariar o ímpeto dos concorrentes chineses.
Tesla reage com medidas agressivas
Ciente das dificuldades, a Tesla começou esta semana a oferecer financiamento sem juros para o Model Y na China, o que pode representar uma poupança superior a 10.000 yuans (cerca de 1.370 euros) para os consumidores. Além disso, o tempo de espera para a versão de longo alcance do Model Y foi reduzido de 6-10 semanas para apenas 3-5 semanas.
Mais interessante ainda é o rumor de que a Tesla está a desenvolver uma versão mais barata do Model Y, com um preço até 20% inferior, cuja produção poderá arrancar já em 2026 na fábrica de Xangai.
Tesla precisa de se reinventar na China
Como entusiasta e analista de tecnologia automóvel, é claro para mim que a Tesla ainda tem uma grande base de fãs e um produto competitivo. Mas neste momento, no mercado chinês, isso não chega. A rapidez com que marcas como a BYD ou a Xiaomi colocam no mercado modelos atualizados e carregados de tecnologia é impressionante. E fazem-no com uma agressividade de preços que coloca a Tesla numa posição desconfortável.
A marca norte-americana pode ter liderado a revolução elétrica, mas agora precisa de reinventar a sua estratégia para não ser ultrapassada pela nova vaga de fabricantes locais. A aposta numa versão mais barata do Model Y parece-me um passo na direção certa, mas terá de vir acompanhada de uma revisão mais profunda da proposta de valor e da forma como se comunica com o consumidor chinês.
Conclusão
A Tesla continua a ser um nome forte no universo dos veículos elétricos, mas os números mais recentes mostram uma clara tendência de perda de tração no mercado chinês. Se Elon Musk quer manter a Tesla como líder global, terá de ajustar a sua abordagem à realidade de mercados cada vez mais competitivos, tecnologicamente evoluídos e sensíveis ao preço.
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