Nem os funcionários do Google confiam no modo incógnito do Chrome

Feliz Dia Internacional da Privacidade de Dados, estou a brincar, não é hoje! Ainda assim não deixa de ser um bom momento para refletir sobre a importância da privacidade e da segurança dos nossos dados. E que melhor forma de o fazer do que lendo um e-mail do CEO do Google Sundar Pichai sobre como a empresa não pode comercializar o modo incógnito como privado, porque não é realmente privado?

Sinceramente, nem sei por onde começar com este. Por um lado, é hilariante por outro lado, é preocupante que tantas pessoas pareçam pensar que o modo incógnito é na realidade privado.

Mas suponho que não é realmente assim tão surpreendente. Afinal de contas, quando se ouve a palavra “incógnito”, provavelmente pensa-se em algo que está escondido e secreto. E claro, o modo incógnito oferece de facto algum nível de protecção da privacidade. Mas é importante lembrar que na realidade não é tão privado como se possa pensar.

“Não podemos comercializar o modo incógnito como privado porque não é realmente privado”, essa foi uma das frases no e-mail recebido pelo CEO do Google Sundar Pichai no Dia Internacional da Privacidade de Dados realizado no ano passado. No e-mail, a chefe de marketing do Google, Lorraine Twohill, queixou-se da aparente falta de privacidade no modo incógnito do Google Chrome, cujos supostos sistemas de protecção são altamente ineficazes, como relatou a Bloomberg.

O modo incógnito do Chrome promete aos utilizadores “navegação privada” e assegura que “nenhum outro utilizador do dispositivo será capaz de ver a sua actividade” Por outras palavras, ao utilizar este modo, o navegador impede que as páginas visitadas sejam guardadas no histórico, os cookies e os dados introduzidos em formulários também não serão guardados.Mas para a equipa de marketing da Google, liderada pela Twohill, estas medidas não são suficientes, e apela ao próprio Pichai para “tornar o modo incógnito verdadeiramente privado”, a fim de deixar de utilizar uma linguagem confusa ao descrever as funções desta ferramenta, o que pode acabar por degradar a confiança dos consumidores.

O modo incógnito do Chrome não é suficientemente privado, segundo os funcionários do Google

Lorraine Twohill decidiu enviar este e-mail pouco depois de alguns utilizadores terem decidido processar o Google por localizar utilizadores quando navegavam no modo incógnito, alegando violações da sua privacidade.

Os queixosos sugerem que a forma como o Google se refere ao modo incógnito leva os consumidores a acreditar que as suas ferramentas de protecção são mais favoráveis à privacidade do que realmente são. Nesse ponto, concordam com Twohill e membros da sua equipa, que fizeram troça do modo incógnito no passado, fazendo comentários que incluíam referências ao “tipo incógnito” daquele famoso episódio dos Simpsons, ou sugestões de que o ícone “espião” e o nome “Modo Incógnito” já não deveriam ser usados para se referir à funcionalidade.

Foi também sugerida a possibilidade de indicar no ecrã inicial do modo incógnito que o utilizador está “Não protegido do Google” ao ativar esta função. Por seu lado, o Google discorda das alegações, e explica que este modo oferece aos utilizadores uma experiência de navegação privada, e que desde o início foi claramente explicado como funciona e qual é o seu verdadeiro objetivo.

Em 2018, um estudo descobriu que mais de metade dos utilizadores do Chrome acreditavam que ligar o modo incógnito impedia o Google de poder seguir a sua actividade. Mas, como vários peritos na matéria deixaram claro mais de uma vez, a utilização deste modo não serve para esconder a identidade do utilizador em sítios Web, nem serve para proteger a actividade do acesso de terceiros, tais como o fornecedor de serviços de Internet.