As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China voltam a deixar marcas profundas no setor tecnológico global. Esta semana, os gigantes dos semicondutores Nvidia e AMD revelaram perdas financeiras significativas, consequência direta de novas restrições à exportação impostas pela administração norte-americana. O impacto estende-se a outros fabricantes de chips, empresas de equipamentos e até ao mercado bolsista tecnológico no geral.
Se havia dúvidas de que a política externa afeta diretamente a tecnologia que usamos todos os dias, os números agora falam por si.
Neste artigo vão encontrar:
Ações em queda: mercado reage à incerteza
Na passada quarta-feira, os mercados financeiros assistiram a um recuo expressivo nas ações de várias empresas tecnológicas. O destaque vai para a Nvidia e a AMD, que viram os seus títulos afundarem mais de 6%, após divulgarem previsões de prejuízos ligados às novas regras de exportação dos EUA. Estas medidas afetam diretamente os seus negócios com a China, um dos maiores mercados globais para chips e componentes eletrónicos.
A reação em cadeia não tardou: empresas como a ASML, Micron, Broadcom, Marvell, Applied Materials e Lam Research registaram quedas entre 2% e 5%. O próprio índice Nasdaq Composite, altamente dependente de empresas tecnológicas, caiu quase 2%, refletindo a apreensão generalizada dos investidores.
Nvidia perde 5,5 mil milhões de euros com GPUs H20
A Nvidia, uma das empresas mais valorizadas do mundo graças à sua liderança em processadores gráficos (GPUs) e hardware para inteligência artificial, enfrenta agora um cenário incerto. Um arquivamento regulatório revelou que a empresa poderá perder até 5,5 mil milhões de euros, valor relacionado com as suas GPUs H20, desenvolvidas especificamente para o mercado chinês.
Estas GPUs foram criadas para se alinharem com as anteriores restrições de exportação de hardware de IA impostas pela administração Biden. Contudo, com o regresso de Donald Trump ao poder, as regras foram endurecidas, obrigando agora a licenciamento prévio para exportação desses chips para a China e outros destinos considerados sensíveis.
Este novo entrave compromete gravemente as expectativas de receita da Nvidia para 2024, que estimava obter até 15 mil milhões de euros com as vendas destas GPUs. A empresa vê assim a sua perspetiva de curto prazo significativamente alterada.
AMD e ASML também sentem o impacto
A AMD, concorrente direta da Nvidia, também alertou para potenciais prejuízos. Os seus chips MI308, também voltados para aplicações de IA, estão agora sujeitos às novas regras de controlo de exportações. A empresa estima uma perda de cerca de 800 milhões de euros, caso estas restrições se mantenham ou agravem.
Por sua vez, a ASML, empresa holandesa responsável por fabricar o equipamento essencial para a produção de chips de última geração, viu as suas ações caírem cerca de 5%. A empresa indicou uma redução inesperada nas encomendas, atribuindo parte da responsabilidade à incerteza geopolítica gerada pelas novas restrições.
Não é só sobre chips: todo o setor tecnológico está a sentir
O impacto não se ficou pelos fabricantes de semicondutores. O ETF VanEck Semiconductors, que agrega ações do setor, caiu mais de 4%, e empresas como a Meta, Alphabet (Google) e Tesla também recuaram cerca de 2%. Mesmo os gigantes Apple, Amazon e Microsoft registaram quedas, embora mais moderadas, de cerca de 1%.
Estes números demonstram claramente que o mercado está altamente sensível a instabilidades políticas, sobretudo quando envolvem superpotências como os EUA e a China.
O futuro da tecnologia está nas mãos da diplomacia
Esta situação é um lembrete brutal de que a inovação tecnológica não vive num vácuo. A inteligência artificial, os semicondutores e o hardware de ponta são hoje peças centrais de um jogo de poder global, e os interesses económicos e políticos moldam diretamente aquilo que as marcas conseguem — ou não — oferecer aos consumidores.
A Nvidia e a AMD são apenas a face visível de um problema mais profundo. O que está em causa é a capacidade de inovar num ambiente onde as regras mudam ao sabor da política internacional. E, infelizmente, os utilizadores finais são quem acaba por pagar a fatura, seja em atrasos, aumentos de preços ou acesso limitado à tecnologia mais recente.
Conclusão
O setor tecnológico global está em alerta. As tensões renovadas entre os EUA e a China não são apenas manchetes de jornal — são realidades com impacto direto nas finanças de empresas chave como a Nvidia, AMD e ASML. E enquanto a política externa norte-americana continuar a seguir um caminho de confrontação, o futuro da inovação tecnológica global poderá estar em risco.
A tecnologia evolui rapidamente, mas a geopolítica ainda dita as regras do jogo. Cabe-nos a nós, consumidores e analistas, estar atentos aos movimentos que, embora à primeira vista distantes, afetam diretamente os gadgets que usamos no dia a dia.
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