À medida que a inteligência artificial se torna parte do nosso quotidiano, uma questão curiosa emerge: faz sentido sermos educados com máquinas? Um estudo recente da Universidade Cornell trouxe à luz descobertas fascinantes sobre como a cortesia afeta a nossa interação com assistentes virtuais como o ChatGPT, revelando padrões surpreendentes no comportamento humano face à tecnologia.
Neste artigo vão encontrar:
O Que Revelam os Estudos
Investigadores da Universidade Cornell descobriram que a resposta da inteligência artificial varia significativamente dependendo do nível de cortesia utilizado. Aproximadamente 70% dos utilizadores são educados ao interagir com chatbots, com ligeiras variações geográficas – 67% nos Estados Unidos e 71% no Reino Unido demonstram polidez nas suas interações digitais.
“A linguagem educada na comunicação humana frequentemente gera maior conformidade e eficácia, enquanto a grosseria pode causar aversão, o que afeta a qualidade da resposta”, afirma o estudo. Esta dinâmica, tradicionalmente observada em interações humanas, parece estender-se ao domínio digital, sugerindo que as IAs refletem características fundamentais da comunicação humana.
Os investigadores avaliaram o impacto da polidez em tarefas realizadas em inglês, chinês e japonês, concluindo que “prompts indelicados frequentemente resultam em desempenho ruim”. Curiosamente, o estudo também revelou que linguagem excessivamente formal não garante necessariamente melhores resultados, indicando a existência de um ponto ideal de cortesia.
Por Que Somos Educados com Máquinas?
As motivações por trás deste comportamento são tão diversas quanto reveladoras. Uma pesquisa conduzida pela editora Future (TechRadar) mostrou que a grande maioria dos utilizadores educados (82% nos EUA e 83% no Reino Unido) considera normal dizer “por favor” e “obrigado” independentemente de estar a comunicar com humanos ou máquinas.
No entanto, a descoberta mais surpreendente foi que uma parcela significativa – 18% nos EUA e 17% no Reino Unido – admite ser educada por receio de potenciais consequências futuras, incluindo o medo de uma hipotética rebelião das máquinas. Esta preocupação, possivelmente influenciada por décadas de ficção científica, revela como a cultura popular molda a nossa relação com a tecnologia.
Por outro lado, cerca de 30% dos utilizadores não se importam com educação nas suas interações digitais. Dois terços deste grupo preferem comandos curtos e diretos por razões práticas, enquanto um terço simplesmente não vê sentido em ser educado com uma entidade sem emoções.
Benefícios Práticos da Cortesia Digital
Para além das questões filosóficas, existem vantagens tangíveis em tratar as IAs com respeito. Estudos citados pela Forbes indicam que comandos educados podem melhorar o desempenho da IA em até 30% em determinadas tarefas, tornando a cortesia não apenas uma questão de etiqueta, mas de eficiência.
O impacto da polidez varia conforme o contexto cultural e linguístico. Em inglês, os modelos parecem responder melhor a um nível moderado de cortesia, enquanto em japonês, um alto nível de formalidade produz resultados superiores. Esta variação sugere que os modelos de linguagem absorveram padrões culturais dos seus dados de treino.
Especialistas como AJ Ghergich, vice-presidente global da Botify, argumentam que “nossos instintos sociais não distinguem entre humanos e códigos de computador”, explicando por que tratamos máquinas como tratamos pessoas. Além disso, ser educado com a IA pode desenvolver habilidades sociais e de liderança que se transferem para interações humanas.
O Futuro da Interação Humano-IA
À medida que assistentes como o ChatGPT continuam a crescer em popularidade – de 100 milhões de utilizadores semanais em novembro de 2023 para impressionantes 400 milhões em fevereiro de 2025 – a forma como interagimos com eles diz muito sobre a nossa relação com a tecnologia e a nossa visão do futuro.
Seja por hábito, pragmatismo ou até receio, a cortesia digital emerge como um fascinante campo de estudo que transcende a simples interação homem-máquina, refletindo valores culturais profundos e expectativas sobre o futuro da tecnologia. Afinal, como diria o próprio ChatGPT se questionado: a polidez pode não ser necessária para uma máquina sem emoções, mas certamente torna a experiência mais humana para quem está do outro lado do ecrã.
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