Ao longo dos últimos 16 anos, a evolução do Android tem sido tão fascinante quanto caótica. Recordo-me bem dos tempos em que o Google lançava mensalmente as estatísticas de distribuição do sistema operativo, enquanto nós, entusiastas da tecnologia, discutíamos nomes carismáticos como Froyo (Android 2.2), Eclair (Android 2.0) e, claro, KitKat (Android 4.4), fruto de uma parceria com a Nestlé.
No entanto, havia (e continua a haver) uma sombra persistente a pairar sobre o Android: a fragmentação. Um problema estrutural que, mesmo com todas as evoluções e tentativas de mitigação, ainda hoje assombra o ecossistema Android.
Neste artigo vão encontrar:
A eterna fragmentação do Android
Devido à enorme diversidade de fabricantes a operar sob o chapéu do Android — cada um com os seus próprios calendários de atualizações e interfaces personalizadas —, a adoção da versão mais recente do sistema operativo é sempre lenta e desigual.
O Google, ciente da frustração que isso gerava, acabou por deixar de publicar as tabelas de distribuição mensalmente. Desde 2023, os dados são atualizados apenas uma ou duas vezes por ano, através do Android Studio.
Ainda assim, a realidade é difícil de ignorar: em abril de 2025, a versão mais recente, Android 15, estava presente em apenas 4,5% dos dispositivos Android.
É importante notar que este número inclui smartphones Pixel, que receberam a atualização estável em outubro passado, bem como alguns modelos da OnePlus e Nothing. A Samsung, apesar de ter iniciado a distribuição de versões beta da One UI 7 baseada em Android 15, ainda não aparece refletida nestes dados.
Distribuição atual do Android: números que falam por si
Aqui estão os dados mais recentes da distribuição do Android, com base em ligações à Play Store nos últimos sete dias até 1 de abril de 2025:
- Android 15.0 (V) – 4,5%
- Android 14.0 (U) – 27,4%
- Android 13.0 (T) – 16,8%
- Android 12.0 (S) – 13,8%
- Android 11.0 (R) – 15,9%
- Android 10.0 (Q) – 10,2%
- Android 9.0 (Pie) – 5,8%
- Android 8.1 (Oreo) – 3,0%
- Android 8.0 (Oreo) – 1,0%
- Android 7.1 (Nougat) – 0,6%
- Android 7.0 (Nougat) – 0,6%
- Android 6.0 (Marshmallow) – 0,7%
- Android 5.1 (Lollipop) – 0,5%
- Android 5.0 (Lollipop) – 0,1%
- Android 4.4 (KitKat) – 0,1%
É curioso — e até preocupante — ver que versões tão antigas como o Android 5.0 e 4.4 ainda persistem no ecossistema, mesmo com toda a evolução tecnológica registada na última década.
O impacto da fragmentação
Se o Android fosse um sistema operativo mais controlado — como o iOS da Apple —, é plausível que o Android 15 já estivesse presente numa fatia muito maior dos dispositivos.
A fragmentação traz implicações reais: atraso na chegada de novas funcionalidades, falhas de segurança prolongadas em dispositivos antigos, e uma experiência de utilizador extremamente variável, dependendo do fabricante e da gama de produto.
Apesar dos esforços recentes, como os Google Play Services e o Project Treble, destinados a acelerar as atualizações e separar o núcleo do Android do hardware dos fabricantes, a verdade é que a fragmentação continua a ser um dos maiores calcanhares de Aquiles do Android.
O futuro do Android: esperança ou repetição?
Com a aproximação da chegada do Android 16, prevista para junho deste ano para os modelos Pixel 6 e mais recentes, o ciclo de fragmentação deverá repetir-se: alguns smartphones receberão rapidamente a atualização, enquanto muitos outros terão de esperar meses, ou nunca a receberão oficialmente.
Na minha opinião, enquanto o Android continuar a ser tão aberto e diverso — uma das suas maiores forças e simultaneamente uma fraqueza —, a fragmentação será um problema estrutural difícil de eliminar completamente.
A resposta pode não passar pela homogeneização completa, mas sim por soluções intermédias: atualizações modulares, mais serviços universais atualizados pela Play Store, e uma maior pressão do Google sobre os fabricantes para cumprirem prazos mínimos de suporte.
Seja como for, uma coisa é certa: no mundo Android, a doce fragmentação continuará a ser uma realidade com que teremos de conviver — para o bem e para o mal.
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